quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Harry Emerson Fosdick, Martin Luther King... O Câncer do Liberalismo teológico.

  
Qualquer semelhança com nossos dias não é mera coincidência. A estratégia de pressão é sempre a mesma.


“Eu deveria ter vergonha de viver nesta geração e não ser um herege!” - Harry Emerson Fosdick
Harry Emerson Fosdick nasceu em Buffalo, Nova York, em 24 de Maio de 1878. Ainda menino ele afirmou ter nascido de novo, mas quando adolescente, se rebelou contra o movimento que foi denominado "nascer de novo", que era então conhecido como fundamentalista. Ele desenvolveu um interesse precoce por teologia e optou por seguir a formação ministerial na Colgate Divinity School, onde ele foi influenciado por William Newton Clarke, um dos primeiros defensores do evangelho social. Ao se formar a partir de Colgate, ele continuou no Union Theological Seminary. Em 1904, ele aceitou seu primeiro pastorado na Primeira Igreja Batista em Montclair, New Jersey, e quatro anos mais tarde, também aceitou um cargo docente no Union, onde permaneceu ensinando até 1946. Fosdick rapidamente provou ser um hábil comunicador e orador convincente, e não demorou muito até ele ser conhecido como o ministro mais importante da América.

Em 1919, Fosdick foi convidado para se tornar pastor associado na Primeira Igreja Presbiteriana em Nova York. Ele rapidamente ganhou uma reputação de ser uma voz de liderança no meio cristão, e centenas e depois milhares, foram para a Primeira igreja Presbiteriana em Nova York para ouvir seus sermões. Foi ali, em 21 de maio de 1922, que ele pregou o sermão que veio a definir toda a sua carreira e influência. Neste sermão, ele proclamou que havia uma grande batalha na igreja entre os fundamentalistas e os modernistas ou liberais, e que ele ia ficar firmemente do lado dos liberais. Por causa de seu desejo de modernizar a fé cristã, ele tranquilamente rejeitou a crença em uma série de doutrinas cristãs tradicionais, incluindo a infalibilidade e inerrância das Escrituras... ( Começou usar novas “chaves hermenêuticas”). Ele denunciou os fundamentalistas como sendo intolerantes por insistirem em pregar doutrinas que a ciência, a razão e um mundo moderno já não podiam sustentar. John D. Rockefeller ( Que foi o homem mais rico da história dos Estados Unidos ) – como era de se esperar, pois o erro sempre tem grande apoio, apreciou muito este sermão específico - tanto que ele mandou imprimir 130 mil exemplares e enviou para todos os pastores protestante no país.

Seu sermão definiu o que logo seria chamado de a controvérsia fundamentalista-modernista. Quando Fosdick lutou contra os fundamentalistas de sua época, ele lutou contra nada menos do que o Cristianismo Bíblico tradicional. Os fundamentalistas foram os que insistiam sobre os princípios básicos e históricos do cristianismo ortodoxo -  que defendiam as doutrinas fundamentais da fé. Uma das táticas do liberalismo – como hoje – sempre é chamar a Verdade bíblica de fundamentalismo...

Fosdick não foi o único teólogo liberal de sua época, mas ele foi o único a ganhar ampla aclamação e a plataforma mais ampla para difundi-lo. Enquanto muitos outros estavam pressionando o liberalismo teológico nos seminários e nos salões da academia, Fosdick estava nas ondas de rádio e nas livrarias - tendo a sua mensagem chegando às pessoas comuns. Sua voz se estendia longe através de seu programa de rádio, The National Vespers Hour, que era transmitido no Norte e Leste dos Estados Unidos, e também através de muitos livros best-sellers que eventualmente venderam na casa dos milhões. Em duas ocasiões distintas ele esteve na capa da revista Time.


Em meados da década de 1920, Fosdick havia se estabelecido como a principal voz do liberalismo do século XX. Sua posição em favor do liberalismo o colocou em desacordo com muitas das vozes conservadoras no presbiterianismo, e isso o levou a deixar a Primeira Igreja Presbiteriana em 1925, e ir para a Park Avenue Baptist Church.

No início dos anos 1920, J. Gresham Machen emergiu como um dos principais adversários do liberalismo. Seu livro de 1923, Cristianismo e Liberalismo -  foi uma resposta forte e bíblica, que comparou a teologia bíblica e liberal, e mostrou que as duas estavam em clara oposição. Ele, com razão, perguntou: "A questão não é se o Sr. Fosdick é um homem vencedor, mas se a coisa pela qual ele é chamado vencedor, é o cristianismo." Outros se juntaram à batalha também. Fosdick permaneceu firme declarando: “Eles me chamam de herege. Bem, eu sou um herege se a ortodoxia convencional é o padrão. Eu deveria ter vergonha de viver nesta geração e não ser um herege.”

Em 1929, Princeton, uma vez um bastião do pensamento e ensino Reformado, foi reorganizada sob as influências modernistas. Quase imediatamente, quatro professores que mantiveram a fé reformada (Robert Dick Wilson, J. Gresham Machen, Oswald T. Allis, e Cornelius Van Til) se retiraram de Princeton e estabeleceram o Seminário Teológico de Westminster, na Filadélfia, a fim de continuar a defender a fé que uma vez Princeton defendeu. Se a controvérsia fundamentalista-modernista foi iniciada com o sermão de Fosdick em 1922, efetivamente se instalou nas igrejas conservadoras em 1929, com a saída desses professores.

Rockefeller, com seu poderio econômico, construiu um grande edifício no Hudson, e em 1930 Fosdick foi empossado como pastor na Igreja Riverside. Ele seria pastor dessa congregação por 16 anos, e, após sua aposentadoria, permaneceu ali por mais de vinte e oito anos. Esta igreja tornou-se seu laboratório para o liberalismo - e foi ali que ele colocou em prática seus valores liberais ao máximo. (Abraçou causas sociais...)

Fosdick morreu em Nova York em 5 de outubro de 1969, duas semanas depois de ser hospitalizado por causa de um ataque cardíaco. Ele morreu aos 91 anos de idade.




Harry Emerson Fosdick não era um pensador original, mas um grande divulgador, que tomou a teoria do liberalismo a partir dos seminários e a trouxe para um nível comum. Ele queria modernizar a fé, tornando-a atraente e compatível com os tempos modernos e as sensibilidades modernas. Queria colocar a fé em sintonia com a cultura. No fundo, o liberalismo questionou a natureza da Bíblia e negou sua infalibilidade e autoridade. O liberalismo negou que a Bíblia fosse a Palavra de Deus e insistiu,  que ela apenas continha a Palavra de Deus ( Valeria só o que estivesse de acordo com a “chave hermenêutica” determinada por ele). Uma vez que a autoridade das Escrituras tinha sido negada, uma série de doutrinas necessariamente cairiam em seu rastro mortal.

Fosdick questionou as crenças essenciais necessárias para ser um cristão - e começou a desafiar crenças cristãs ortodoxas. Ele negou, por exemplo, a ira de Deus, sugerindo que a ira era simplesmente uma metáfora para as consequências naturais de se fazer algo errado. Com a ira removida, era inevitável que a expiação substitutiva de Jesus Cristo também fosse negada. A propiciação... Em pouco tempo, o “cristianismo” de Fosdick não se parecia em nada com o Cristianismo bíblico e histórico.

Em um sermão: "A Igreja deve ir além do Modernismo", Fosdick falou de sua metodologia na modernização da fé cristã, dizendo: “Nós já, em grande parte, ganhamos a batalha que começamos; ajustamos a fé cristã para a melhor inteligência de nossos dias, e ganhamos as mentes mais fortes e melhores habilidades das igrejas para o nosso lado. O fundamentalismo ainda está conosco, mas principalmente nos remansos. O futuro das igrejas, se vamos ter um, está nas mãos do modernismo.” Claro, ele estava muito otimista, e demasiado cego pelo seu próprio sucesso. O liberalismo representava um grande desafio para a fé, mas como todos os outros adversários, ele se levantaria mas não poderia vencê-la.

Se Fosdick foi o homem que popularizou e legitimou o liberalismo – muitos outros, especialmente aqueles que operavam no nível popular, seguiram seus passos. Homens como Norman Vincent Peale, Robert Schuller e John Shelby Spong estão entre eles. Martin Luther King Jr., um teólogo liberal em sua própria definição, considerava Fosdick como o maior pregador do século, e em 1958 assinou uma cópia do Stride Toward Freedom para Fosdick com estas palavras: “Se eu fosse chamado para selecionar os mais importantes profetas da nossa geração, eu escolheria você para liderar a lista”.

O que a Bíblia diz?

O ensinamento de Fosdick era falso em muitas áreas, mas o coração de tudo foi sua negação da infalibilidade e autoridade da Bíblia e a tentativa de tornar o cristianismo algo que a cultura pudesse abraçar como “relevante”. Ele elevou a razão humana acima das claras palavras da Escritura; ele fez da razão o árbitro final da verdade. Todas as outras doutrinas que ele negou, foi apenas consequência de primeiro ter minado a Bíblia. Cristãos há muito tempo insistiram, como os que foram chamados fundamentalistas nos dias de Fosdick, que a Palavra de Deus, não a razão humana, é a medida do verdadeiro conhecimento. Provérbios 3:5-7 diz: " Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas. Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal.” Nossa compreensão de nós mesmos e do mundo que nos rodeia é falha; devemos depender de Deus para revelar o verdadeiro conhecimento.


Em sua segunda carta a Timóteo, Paulo advertiu: “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.” 2 Timóteo 4:3,4.


Fosdick queria fazer da fé cristã um calmante para aqueles comichão nos ouvidos da cultura em que vivia, e, ao fazê-lo, ele a distorceu diabolicamente. A realidade é que a fé cristã é, e sempre será ofensiva. Se removermos a ofensa do evangelho, nós removemos o poder do evangelho, removemos o próprio evangelho.

As palavras de Paulo aos Coríntios são perfeitamente adequadas para Fosdick e seu liberalismo tão sutilmente comum hoje entre nós:


“Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação. Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.” - 1 Coríntios 1:20-25

Extraído: http://www.josemarbessa.com/2016/12/harry-emerson-fosdick-martin-luther.html

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Como Entender...?


O Que é um Culto Reformado?

Por: Daniel R. Hyde

Por que o culto em uma igreja Reformada é tão diferente do culto da maioria das outras igrejas a que tenho ido?” Não posso dizer quantas vezes ouço visitantes fazerem essa pergunta. Tenho percebido que o que mais impressiona as pessoas a respeito de uma igreja Reformada, não é nossa doutrina, mas o nosso culto – que parece, a princípio, algo estranho e até mesmo frio para muitos.

Devemos explicações aos inquiridores sérios não somente sobre o que fazemos no culto, mas quanto ao por quê. A Bíblia exige que nosso culto seja racional.(1) Os filhos perguntavam para seus pais, quando celebravam a Páscoa, 3.500 anos atrás: “Que rito é este?” (Êx 12.26). Conquanto a adoração ao Deus Triuno seja profundamente transcendente e misteriosa, é necessário que seja compreensível. Isto foi o que o apóstolo Paulo ensinou em sua primeira carta aos Coríntios, quando disse que a pregação em línguas estranhas, comumente chamada de “línguas”, precisava ser interpretada para edificação daquela assembleia.

Este estudo tem o propósito de apresentar as bases do culto Reformado, de tal forma que você esteja preparado para explicar por que nós, igrejas Reformadas, temos o culto que temos. Faremos isso examinando sete características do culto Reformado: ele é bíblico, pactual, evangélico, histórico, alegre, litúrgico, e reverente.

1. O culto reformado é bíblico

Uma congregação da Palavra
Como igrejas Reformadas, fazemos o que fazemos no culto por causa das Santas Escrituras. Obviamente, toda igreja que crê na Bíblia hoje, diz: “Nosso culto é bíblico!” Afinal de contas, quem quer um culto não bíblico? Como cristãos reformados, somos diligentes em glorificar nosso Deus zeloso da forma como ele nos ordenou. Esta é a razão de dizermos que nosso culto é bíblico. Contudo, o que isso significa? Com o que este culto se parece?

Primeiro, a Escritura descreve a Igreja como uma comunidade de fé. Porque o Espírito Santo cria e forma a fé pela Palavra (Rm 10.17), ouça como o Apóstolo Paulo, em suas epístolas pastorais, fala da Igreja como sempre aprendendo e sempre ensinando o seguinte: palavras da fé (1Tm 4.6), sã doutrina (1 Tm 1.10; Tt 1.9; 2.1), ensino sadio (2Tm 4.3), sãs palavras (1Tm 6.3; 2Tm 1.13), a boa doutrina (1Tm 4.6), o bom depósito (2Tm 1.14) o mistério da fé (1Tm 3.9) e a palavra fiel (Tt 1.9). Com o fim de aprender essas “palavras de fé” e ter a palavra de Cristo habitando ricamente em nós (Cl 3.16), nos reunimos em uma comunidade, como  Israel fez no deserto depois de sair do Egito. A história do livro do Êxodo mostra a igreja do Antigo Testamento reunindo-se ao pé do Monte Sinai em adoração. Nós, como povo da Nova Aliança de Deus, reunimo-nos em adoração e chegamos ao “monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial” (Hb 12.22).

Por isso, a marca do Culto Reformado é sua saturação das Escrituras. Os cultos em Estrasburgo, Genebra, Heidelberg, e o Livro Comum de Orações na Inglaterra estão repletos de textos das Escrituras e alusões escriturísticas. Em tempos de analfabetismo bíblico, precisamos de um culto cheio das Escrituras, com uma linguagem escriturística em cada aspecto, das leituras responsivas e cânticos, às orações e leituras bíblicas propriamente ditas. Como alguém já disse: “Não teremos Jesus Cristo no centro do nosso culto se a Palavra dele não estiver no centro”.(2)  Robert Godfrey também pergunta: “Se não estamos interessados na Palavra de Deus, poderemos estar realmente interessados em Deus?”.(3) Portanto, em nosso culto de adoração temos de ler, pregar, orar, cantar e ver, nos sacramentos, a Palavra.

Além do mais, necessitamos de base escriturística para o culto porque a Escritura nos ensina a estrita ligação da Palavra com o Espírito de Deus. A Bíblia desconhece a falsa dicotomia entre uma igreja que foca na Palavra e outra no Espírito, como se ambos fossem mutuamente excludentes. Ao invés disso, o que aprendemos da Escritura (Sl 33.6; Is 34.16; 59.21; 61.1; Jo 3.34, 6.63; Tg 1.18; 1Pe 1.23) é que onde a Palavra está, ali está o Espírito.
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Extrato do livro "O que é um culto Reformado", Ed. Os Puritanos, 2012, p.13, 15, 16. À venda na CLIRE e Amazon (https://www.amazon.com.br/dp/B00IZEH2T0).
Rev. Daniel R. Hyde é pastor da Oceanside United Reformed Church, Oceanside, CA, USA, que faz parte da United Reformed Churches in North America (URCNA); recebeu o M.Div., Master of Divinity pelo Westminster Seminary California, 2000 e o Th.M., Master of Theology pelo Puritan Reformed Theological Seminary, 2010
(1) Para uma introdução extremamente breve aos princípios e práticas do culto Reformado escrita para não-cristãos ou recém-chegados na igreja Reformada, ver Daniel R. Hyde, What to Expect in Reformed Worship: A Visitor’s Guide (Eugene: Wipf & Stock, 2007).
(2) Mark Ashton with C. J. Davis, “Following in Cranmer’s Footsteps,” in Worship by the Book, org. D. A. Carson (Grand Rapids: Zondervan, 2002), p. 82.
  Robert Godfrey, Pleasing God in Our Worship, Today’s Issues, org. James Montgomery Boice (Wheaton: Crossway Books, 1999), p. 32.
(3) Robert Godfrey, Pleasing God in Our Worship, Today’s Issues, org. James Montgomery Boice (Wheaton: Crossway Books, 1999), p. 32.



Uma das canções mais amadas dos cristãos cantadas durante a época de Natal é a de William C. Dix, “What child is this?” (“que criança é essa?”). Como poucas canções, a letra dessa composição nos leva a contemplar a identidade, a pessoa e a obra do bebê na manjedoura. Na verdade, ainda que de forma gentil, mas também persistentemente, força-nos a responder à pergunta: essa criança é realmente um bebê santo ou apenas um bebê para feriados e comemorações?

Quando pensamos sobre essa questão, a maioria das nossas reflexões se detêm nos anúncios do nascimento nos Evangelhos de Mateus e de Lucas. Estas passagens certamente têm seu lugar. Nesta série, contudo, vamos considerar o Natal de acordo com o apóstolo Paulo. Sim, até mesmo o apóstolo reflete sobre as maravilhas do nascimento de Jesus, e ele o faz em Gálatas 4.4-5.

(4) vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, 

(5) para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos.

O apóstolo Paulo nos diz seis coisas extraordinárias sobre Cristo ao nos responder à pergunta que a canção nos propõe. Nessa nossa primeira parte de uma série de três textos, vamos considerar duas dessas verdades.

Em primeiro lugar, perceba que, de acordo com o apóstolo, Jesus é o Filho pelo qual todo o tempo havia esperado. As palavras de Paulo nos levam a refletir sobre o momento da aparição de Cristo no mundo: “vindo, porém, a plenitude do tempo”. O momento em que Jesus veio é dito como o tempo em seu ponto máximo, uma ocasião única em que todas as partes da história que teriam de ocorrer, de fato, ocorreram. Todo e cada detalhe que deveria ter acontecido agora estava em seu lugar. 

Claramente, Paulo quer que percebamos que o momento do aparecimento histórico do Filho do Pai foi algo acordado e estabelecido entre o Pai e o Filho desde a eternidade. O apóstolo Pedro acrescenta que o momento da chegada do Filho era uma data que os profetas do passado diligentemente investigaram, que lhes fora revelada e predita por eles (1Pedro 1.10-12). Essas palavras, então, geram em nós a percepção de que o momento do nascimento de Cristo foi de acordo com a determinação de Deus, que, desde toda a eternidade, pelo mui sábio e santo conselho de sua própria vontade, livre e imutavelmente, ordenou tudo o que acontece. Cristo não poderia ter nascido mais cedo, nem mais tarde.

Portanto, se o nascimento de Jesus ocorreu na plenitude do tempo, como é essa plenitude? Podemos resumi-la em quatro características. Foi um tempo de preparação política. O Império Romano trouxera a pax Romana (“paz de Roma”) para o mundo então conhecido e, assim, o mundo se uniu como nunca antes (cf. Lucas 2.1). Foi um tempo de preparação econômica. Os romanos haviam construído um bom sistema de transporte, focado em cinco rodovias principais que saiam de Roma para destinos no mundo antigo (cf. Colossenses 1.23). Foi um tempo de preparação cultural. A língua grega se tornara o meio de comércio, cultura e filosofia (ou seja, a língua franca), e assim era possível que o evangelho e a literatura do evangelho atingissem um público universal. E, finalmente, foi um tempo de preparação religiosa. A fome da alma, individual e social, viera sobre o mundo. O fracasso do paganismo e até mesmo do judaísmo, junto com um renascimento das esperanças messiânicas, caracterizava grande parte do mundo antigo. Assim, em sua frase “vindo a plenitude dos tempos”, o apóstolo Paulo nos aponta para o fato de que, politicamente, economicamente, culturalmente e religiosamente falando, a história fora orquestrada pelo Deus único e verdadeiro. Em particular, pela sua singular soberania e providência, as histórias de Roma e Jerusalém, que figuraram tão proeminentemente na estada do nosso Senhor na terra, convergiram. A data marcada para a chegada do Filho do Pai veio na hora certa.

Quem é esta criança na manjedoura, então? É a criança por quem todo o tempo havia esperado.

Em segundo lugar, as palavras do apóstolo em Gálatas 4.4-5 nos dizem que criança é essa quando ele diz que Jesus é o Filho “nascido de mulher”. Com estas palavras, Paulo começa a refletir sobre as circunstâncias de seu nascimento, que por sua vez dirige nossa atenção para a humilhação do glorioso Filho eterno. Em acordo com profecias como as de Gênesis 3.15 e Isaías 7.14, o Filho nasceu de uma mulher. Ele era, portanto, totalmente humano, bem como plenamente divino, o único Deus-homem. O Filho de Deus foi enviado para ser um conosco em nossa humanidade.

Mas há mais nessa expressão “nascido de mulher”. Veja, o apóstolo conhece a história do nascimento de Jesus. Naquele tempo, era costume falar de “nascer de um homem”, um costume de que as genealogias da época testemunham – exceto a de Jesus. Ele nasceu de uma mulher; na verdade, de uma virgem, como predito pelo profeta Isaías. Esta criança nasceu sem um homem, nascido de uma mulher, o Filho de Deus Pai.

No entanto, “nascido de mulher” nos diz ainda mais sobre esta criança. Ele não foi apenas feito e formado “na mulher”, mas “de mulher”. Isto é, ele nasceu de sua carne e sangue, e participou deles. Essa é a primeira circunstância de seu nascimento a que o apóstolo chama a nossa atenção ao refletir sobre o esvaziamento e grande humilhação do Filho do Pai.

Que criança é essa, então? É o Filho que nasceu de uma mulher, assim como era o filho por quem todo o tempo havia esperado.

Por: R. Fowler White. © 2016 Ligonier. Original: Christmas According to the Apostle Paul – Gal 4:4-5 (Part 1 of 3)

Tradução: João Paulo Aragão da Guia Oliveira.  Revisão: Yago Martins. © 2016 Ministério Fiel. Todos os direitos reservados. Website: MinisterioFiel.com.br. Original: O Natal segundo o apóstolo Paulo – Gálatas 4.4-5 (Parte 1 de 3)

Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe o autor, seu ministério e o tradutor, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais

Extraído:  http://voltemosaoevangelho.com/blog/2016/12/o-natal-segundo-o-apostolo-paulo-galatas-4-4-5-parte-13/