Por: Daniel R. Hyde

“Por que o culto em uma igreja Reformada é tão diferente do culto da maioria das outras igrejas a que tenho ido?”
Não posso dizer quantas vezes ouço visitantes fazerem essa pergunta.
Tenho percebido que o que mais impressiona as pessoas a respeito de uma
igreja Reformada, não é nossa doutrina, mas o nosso culto – que parece, a
princípio, algo estranho e até mesmo frio para muitos.
Devemos
explicações aos inquiridores sérios não somente sobre o que fazemos no
culto, mas quanto ao por quê. A Bíblia exige que nosso culto seja
racional.(1) Os filhos perguntavam para seus pais, quando celebravam a
Páscoa, 3.500 anos atrás: “Que rito é este?” (Êx 12.26). Conquanto a
adoração ao Deus Triuno seja profundamente transcendente e misteriosa, é
necessário que seja compreensível. Isto foi o que o apóstolo Paulo
ensinou em sua primeira carta aos Coríntios, quando disse que a pregação
em línguas estranhas, comumente chamada de “línguas”, precisava ser
interpretada para edificação daquela assembleia.
Este
estudo tem o propósito de apresentar as bases do culto Reformado, de
tal forma que você esteja preparado para explicar por que nós, igrejas
Reformadas, temos o culto que temos. Faremos isso examinando sete
características do culto Reformado: ele é bíblico, pactual, evangélico,
histórico, alegre, litúrgico, e reverente.
1. O culto reformado é bíblico
Uma congregação da Palavra
Como
igrejas Reformadas, fazemos o que fazemos no culto por causa das Santas
Escrituras. Obviamente, toda igreja que crê na Bíblia hoje, diz: “Nosso
culto é bíblico!” Afinal de contas, quem quer um culto não bíblico?
Como cristãos reformados, somos diligentes em glorificar nosso Deus
zeloso da forma como ele nos ordenou. Esta é a razão de dizermos que
nosso culto é bíblico. Contudo, o que isso significa? Com o que este
culto se parece?
Primeiro,
a Escritura descreve a Igreja como uma comunidade de fé. Porque o
Espírito Santo cria e forma a fé pela Palavra (Rm 10.17), ouça como o
Apóstolo Paulo, em suas epístolas pastorais, fala da Igreja como sempre
aprendendo e sempre ensinando o seguinte: palavras da fé (1Tm 4.6), sã
doutrina (1 Tm 1.10; Tt 1.9; 2.1), ensino sadio (2Tm 4.3), sãs palavras
(1Tm 6.3; 2Tm 1.13), a boa doutrina (1Tm 4.6), o bom depósito (2Tm 1.14)
o mistério da fé (1Tm 3.9) e a palavra fiel (Tt 1.9). Com o fim de
aprender essas “palavras de fé” e ter a palavra de Cristo habitando
ricamente em nós (Cl 3.16), nos reunimos em uma comunidade, como Israel
fez no deserto depois de sair do Egito. A história do livro do Êxodo
mostra a igreja do Antigo Testamento reunindo-se ao pé do Monte Sinai em
adoração. Nós, como povo da Nova Aliança de Deus, reunimo-nos em
adoração e chegamos ao “monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém
celestial” (Hb 12.22).
Por
isso, a marca do Culto Reformado é sua saturação das Escrituras. Os
cultos em Estrasburgo, Genebra, Heidelberg, e o Livro Comum de Orações
na Inglaterra estão repletos de textos das Escrituras e alusões
escriturísticas. Em tempos de analfabetismo bíblico, precisamos de um
culto cheio das Escrituras, com uma linguagem escriturística em cada
aspecto, das leituras responsivas e cânticos, às orações e leituras
bíblicas propriamente ditas. Como alguém já disse: “Não teremos Jesus
Cristo no centro do nosso culto se a Palavra dele não estiver no
centro”.(2) Robert Godfrey também pergunta: “Se não estamos
interessados na Palavra de Deus, poderemos estar realmente interessados
em Deus?”.(3) Portanto, em nosso culto de adoração temos de ler, pregar,
orar, cantar e ver, nos sacramentos, a Palavra.
Além
do mais, necessitamos de base escriturística para o culto porque a
Escritura nos ensina a estrita ligação da Palavra com o Espírito de
Deus. A Bíblia desconhece a falsa dicotomia entre uma igreja que foca na
Palavra e outra no Espírito, como se ambos fossem mutuamente
excludentes. Ao invés disso, o que aprendemos da Escritura (Sl 33.6; Is
34.16; 59.21; 61.1; Jo 3.34, 6.63; Tg 1.18; 1Pe 1.23) é que onde a
Palavra está, ali está o Espírito.
____________
Extrato do livro "O que é um culto Reformado", Ed. Os Puritanos, 2012, p.13, 15, 16. À venda na CLIRE e Amazon (https://www.amazon.com.br/dp/B00IZEH2T0).
Rev.
Daniel R. Hyde é pastor da Oceanside United Reformed Church, Oceanside,
CA, USA, que faz parte da United Reformed Churches in North America
(URCNA); recebeu o M.Div., Master of Divinity pelo Westminster Seminary
California, 2000 e o Th.M., Master of Theology pelo Puritan Reformed
Theological Seminary, 2010
(1)
Para uma introdução extremamente breve aos princípios e práticas do
culto Reformado escrita para não-cristãos ou recém-chegados na igreja
Reformada, ver Daniel R. Hyde, What to Expect in Reformed Worship: A
Visitor’s Guide (Eugene: Wipf & Stock, 2007).
(2)
Mark Ashton with C. J. Davis, “Following in Cranmer’s Footsteps,” in
Worship by the Book, org. D. A. Carson (Grand Rapids: Zondervan, 2002),
p. 82.
Robert Godfrey, Pleasing God in Our Worship, Today’s Issues, org. James
Montgomery Boice (Wheaton: Crossway Books, 1999), p. 32.
(3)
Robert Godfrey, Pleasing God in Our Worship, Today’s Issues, org. James
Montgomery Boice (Wheaton: Crossway Books, 1999), p. 32.
Nenhum comentário:
Postar um comentário